Sobre ter uma ideia, validar, colocá-la no ar e reconhecer quando chega a hora de mudar de direção

Em setembro do ano passado, quando o iDEXO foi anunciado, a imprensa usou várias palavras para nos divulgar: espaço de inovação, aceleradora, incubadora, e até coworking. Também, pudera: quando junta local moderno, empreendedores, mentorias e etc, é um pulo para as pessoas pensarem em algo do tipo – ainda mais se houver uma mesa de sinuca em algum canto.

Apesar de nunca termos nos definido em uma palavra só, nascemos com o intuito de ser uma plataforma de inovação aberta. A proposta de acelerar startups, claro, existia, mas com a diferença de contarmos com empresas associadas (Banco ABC, Soluti e a TOTVS, nossa associada fundadora). Isso significa que, desde o início, a ideia era trabalhar nas dores destas grandes empresas e não adquirir equity ou qualquer propriedade sobre o produto dos empreendedores que entrassem no programa, muito menos cobrar mensalidade para que usassem nosso espaço.

Do dia em que abrimos as inscrições para o StartupX, nosso primeiro batch, até o momento em que batemos o martelo nas startups selecionadas, recebemos mais de 250 interessados. Destas, escolhemos 15 de áreas como pagamentos, logística e vendas.

O programa começou em janeiro e foi até maio deste ano com o objetivo de dar um gás no modelo de negócios, conectá-las às empresas associadas e devolvê-las ao mundo muito mais potentes. Para isso, montamos uma programação intensa que contou com mentorias da Hyper Island, Startadora e talks com empreendedores como Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e sócio da Redpoint eventures.

Tudo parecia estar no jeito, até que algumas coisas começaram a nos mostrar que o caminho talvez não fosse aquele. Um exemplo? Empreendedor reclamando que não queria levar lição de casa como se estivesse numa escolinha. Ué, mas como assim?

Realmente, de aulas de pitch o mundo está cheio. Só no Brasil, para se ter uma ideia, de acordo com estudo realizado pela Associação Brasileira de Startups e Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, existem mais de 60 aceleradoras de startups, várias dessas com modelo básico do básico – dê um Google em “como tirar a ideia do papel” e veja como a demanda é alta.

O número, claro, é proporcional à quantidade de gente querendo (ou precisando) empreender por aqui. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor 2017, relatório apoiado pelo Sebrae/IBQP, já passa de 50 milhões o número de brasileiros que têm recorrido ao negócio próprio para se manter, e, por isso mesmo, é mais do que necessário que existam iniciativas que atendam a este público.

O problema, porém, é que se todo mundo focar nisso, como é que a roda vai girar? De nada adianta dar mentorias e realizar a troca de cartões entre as grandes empresas e startups se o projeto entre elas não caminhar – ou, pior ainda, não gerar valor nenhum. Algo mais objetivo precisa acontecer com as já aceleradas.

Foi aí que percebemos que, apesar de termos validado a nossa oferta e não faltar demanda para o que oferecíamos, existia ali um espaço para fomentar não só o empreendedorismo, mas a geração de novos negócios como um todo. E, para isso, precisávamos fazer diferente – até porque, as startups que selecionamos eram, em sua maioria, muito iniciantes e ainda não tinham força para trabalhar com gigantes do tamanho de TOTVS, Banco ABC e Soluti.

Continuar do jeito que estava não faria sentido. Com o primeiro batch finalizado, só nos restava assumir um caminho que muito empreendedor prefere nem imaginar: pivotar nosso modelo e mudar de direção.

Novo iDEXO

A chegada de Juliano Seabra como head deu o tom da mudança. Para ele, que foi diretor-geral da Endeavor por nove anos e viu praticamente de tudo no ecossistema empreendedor, estava claro que faltava uma iniciativa que tornasse essa relação entre as grandes e pequenas empresas mais concreta, com resultados para os dois lados.

“A relação entre startups e grandes empresas precisa fortalecer o que cada um dos lados tem de bom – a inovação, agilidade e pensamento disruptivo das startups e a cauda longa de clientes, a credibilidade e a capacidade de investimento das empresas grandes”, diz Juliano.

 

“Na terra do ‘efeito manada’, onde empreendedores e corporações tentam reproduzir receitas de aparente sucesso, a reflexão que falta é: como subir a barra do resultado para que esta relação multiplique histórias de grande sucesso dos dois lados?”

A primeira coisa que fizemos foi mudar o modo de seleção das startups: agora, só entram aquelas com alguma oportunidade de negócios com pelo menos um de nossos associados – pode ser desde integração técnica, co-desenvolvimento de produtos até a possibilidade de se tornar fornecedor, por exemplo.

Inclusive, na semana de pitches que realizamos em julho, além do time do iDEXO, participaram executivos de vários segmentos da TOTVS, Banco ABC e Soluti. Se eles identificassem algo a ser feito, a startup estava dentro. Simples assim.

Isso nos leva a outra novidade: eliminamos o modelo de programa com duração e grade pré-definidas, comum na maioria das aceleradoras. Já que a proposta aqui é diferente, cada startup tem sua própria jornada no iDEXO e fica o tempo que for necessário para concluir seu projeto. Nosso trabalho, além de montar um plano, é acompanhar todo o business development da oportunidade de negócio entre os dois lados até viabilizá-lo.

Continuamos com parcerias de peso (Hyper Island, iMasters e Cisco, por exemplo) e a oferecer mentorias, mas agora apenas sobre assuntos mais específicos e que façam sentido para o momento atual tanto da startup como da empresa associada.

Em outras palavras, assumimos a missão de ser um braço externo de inovação. Existimos para destravar tudo aquilo que impede grandes empresas de inovar e startups de crescer. Deixamos de acelerar startups para acelerar, acima de tudo, negócios.

O lab de labs

O novo iDEXO vai de encontro com o que Laércio Cosentino, fundador e CEO da TOTVS, imaginou para a iniciativa lá no início, quando teve a ideia de montar algo do tipo (o que prova que, às vezes, a primeira ideia pode ser a melhor, sim, mas pensar em outras e testá-las é também fundamental). Para os mais chegados, ele dizia que seria um lab de labs, em referência aos espaços que muitas gigantes têm criado para inovar (ou pelo menos para falar que estão inovando). Um ambiente aberto e capacitado para receber as dores dos executivos e encontrar as soluções – sem enrolação e sem a necessidade dessas empresas gastarem recursos e tempo para montarem as suas próprias estruturas. Aqui, temos mais de 1.300 mil metros quadrados, 180 estações de trabalho e até um espaço maker para prototipação de ideias.

O nome iDEXO, inclusive, vem do conceito de ideias exponenciais abordado no livro Organizações Exponenciais [ed. HSM], escrito por Salim Ismail, Michael S. Malone e Yuri Van Geest. Na obra, os autores mergulham em casos de companhias bem-sucedidas que sumiram por não enxergar que se atualizar era mais do que necessário.

Com mais de 30 mil clientes Brasil afora, Laércio não via sentido em criar uma iniciativa que atendesse apenas a TOTVS, mas sim algo que fosse útil para outros executivos que precisam inovar e buscar novos caminhos para suas companhias. Banco ABC e Soluti já estão com a gente. Em 2019, a ideia é termos pelo menos mais 10 gigantes, cada uma representando um setor.

O ditado popular diz que não se deve dar o peixe, é preciso ensinar a pescar. A gente vai além: arrumar a linha para conectá-la à vara também é mais do que fundamental.

Hoje, até o fechamento deste post, já estamos trabalhando com 14 startups que identificamos ter sinergia com nossos associados, e terminaremos o ano com cerca de 40.  

São elas: 4Shark, CareCycle, Dica em Dica, Digte, Digibee, JáPaguei, Liuv, Expense Mobi, MyHotel, ReCB, Troco Simples, Minnis, Pin People e Trinity.

No próximo post, contaremos como foi criada a nossa nova metodologia 😉