Estudos mostram que as mulheres foram as mais afetadas emocionalmente pela pandemia. Esse impacto é ainda maior quando olhamos para o mercado de trabalho e falamos de mulheres com filhos. Chegando próximo ao Dia das Mães, que será comemorado no domingo (9/5), o Blog NUVEM ouviu empreendedoras (e mães), de startups da nossa comunidade, que atuam nas áreas de seleção e recrutamento, e experiência do colaborador, sobre quais os aprendizados que o home office trouxe nesse mais de um ano de pandemia

A fundadora e CEO da Jobecam, Cammila Yochabell, ressaltou que a sobrecarga à mulher que tem filhos é um fator importante a ser estar atento e, por isso, é preciso mais empatia de toda a rede em que ela está inserida. 

Ela afirma que, hoje, o trabalho da startup – uma ferramenta de recrutamento e pioneira no desenvolvimento da tecnologia de seleção às cegas por vídeo, metodologia que ajuda no viés inconsciente nas contratações – também já incentiva práticas de compreensão e comprometimento entre seus clientes. Assim como, orienta as candidatas aos processos seletivos a serem o mais transparentes possíveis sobre os aspectos da maternidade. 

“Recomendamos, por exemplo, que elas comuniquem se têm crianças em casa no momento em que será realizado o processo seletivo, isso ajuda a se sentirem mais confortáveis. E do lado de quem recruta que também haja mais entendimento sobre aquela realidade”, explica Cammila

Um levantamento da Faculdade de Medicina da USP feito no ano passado aponta que 40,5% das mulheres com filhos, ouvidas, relataram sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. Uma das razões pode ser a apresentada em uma outra pesquisa, a  Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgada em março deste ano pelo IBGE. Segundo o estudo, as mulheres dedicam quase o dobro do tempo que os homens a afazeres domésticos e cuidados de pessoas na casa. 

A empreendedora, que tem um filho de 3 anos, lembra que também enfrentou muitos desafios em sua carreira. “Subestimam muito o papel da mãe profissionalmente. Há sim muitos pratos para equilibrar e é preciso que as pessoas ao redor dessa mulher sejam solidárias e pratiquem a empatia”.

E os impactos do home office para as mães não acontece apenas no cenário nacional, o levantamento Mulheres no Mercado de Trabalho 2020, realizado pela empresa de consultoria internacional, McKinsey, e a organização de apoio a mulheres,  LeanIn.Org, aponta que uma em cada três mães dos Estados Unidos considerou deixar o mercado de trabalho ou reduzir suas carreiras, no ano passado. 

Já para os profissionais homens, a percepção é um pouco diferente. Uma pesquisa realizada pela startup Pin People, uma plataforma de gestão que permite às organizações automatizarem e mensurarem a experiência dos funcionários, mostra que no último ano as mães tiveram uma nota mais baixa em saúde mental, se comparada ao público geral. Enquanto 78% dos homens afirmavam que estão se sentindo emocionalmente bem frente ao momento que vivemos, apenas 66% das mulheres se sentiam da mesma forma. 

Em compensação, ainda assim, elas se mostraram 17% mais favoráveis ao trabalho remoto do que homens com filhos. Para a cofundadora da Pin People, Isabella Botelho, parte disso pode ser atribuído ao fato de que as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos ainda recaiam mais ao sexo feminino. Portanto, seria uma realidade que elas estão mais habituadas a lidar, do que eles.

“No nosso levantamento, notamos que antes da pandemia, esse mapeamento de quem é pai e mãe, nem se quer acontecia em grande parte das companhias. Mas que, hoje, já gera uma atenção. As empresas estão mais dispostas a ouvir e abertas às adaptações. Isso é um ponto positivo a ser destacado”, ressaltou Isabella. 

A empreendedora tem um filho de dois anos e meio e também precisou se adaptar à nova realidade. Para ela, esse foi o maior desafio enfrentado no home office pelas mães na pandemia. 

“Foi preciso adequar as casas, as ferramentas de trabalho – como computadores -, e as rotinas. Mas entender que outras pessoas também estão passando por situações parecidas e falarmos abertamente sobre isso foi um importante passo dado para o ambiente corporativo”.